terça-feira, 3 de novembro de 2009

“...Todo mundo tem segredos.
Ou pelos menos as pessoas interessantes.
Nada mais chato que alguém mapeado, retilíneo, constante, bonzinho, doce, amável.
Para mim, só vale a pena quem tem um cadáver no armário, uma sombra perigosa, um poço fundo.
Pessoas simplórias são como muitos dias de sol seguidos: agradáveis e infinitamente entediantes.É a falta de obviedade desperta a curiosidade.
Não é à toa que os mitos nascem da dualidade, da pouca incidência de clareza sobre sua personalidade: ninguém fica embasbacado pela simplicidade do seu Zé da quitanda (no máximo, enternecido).
Somos fascinados pelo que não entendemos, amamos o desconhecido—
por isso mergulha-se à noite, escala-se o Himalaia, come-se fora de casa, trai-se.
Por isso Jennifer Aniston é apenas uma menina doce enquanto Angelina Jolie, uma semi-deusa conturbada.
Por isso os vilões são mais tesudos que os mocinhos:
é só quando ultrapassamos a barreira do familiar, do seguro, que nos tornamos verdadeiramente pessoas.
Menos ingênuas, é certo, mas completas.Ter segredos é viver intensamente, é a prova de que a realidade é muito mais do que nossos forçados sorrisos de bom dia, o escritório claustrofóbico, o saldo negativo.
Ter segredos é ter coragem de arcar com o peso de ser único. Porque quem não se arrisca, não faz besteira, não vive: apenas gasta o tempo que deveria ser aproveitado apaixonadamente.
Apenas caminha sobre os dias rumo à morte.”


(Texto extraído da net)